Mi vida había tomado la forma de la placita
Aquel otoño en que tu muerte se organizaba meticulosamente
Yo me aferraba a la plaza, porque tú amabas
La humanidad humilde y nostálgica de las tiendas
Donde los empleados doblan y desdoblan cintas y telas
Trataba de ser tú porque tú ibas a morir
Y la vida entera dejaba allí de ser la mía
Trataba de sonreír como tú les sonreías
Al vendedor de periódicos al vendedor de tabaco
Y a la mujer sin piernas que vendía violetas
Le pedía a la mujer sin piernas que rezara por ti
Encendía velas en todos los altares
De las iglesias que hay al costado de esta plaza
Pues apenas abrí los ojos y vi fue para leer
La vocación de lo eterno escrita en tu rostro
Yo les pedía a las calles a los sitios a la gente
Que fueron testigos de tu rostro
Que te llamaran que deshicieran
El tejido que la muerte entrelazaba en ti
Sophia de Mello Breyner Andresen, Portugal, 1919-2004
Versión © Gerardo Gambolini
imagen: s/d
A pequena praça
A minha vida tinha tomado a forma da pequena praça
Naquele outono em que a tua morte se organizava meticulosamente
Eu agarrava-me à praça porque tu amavas
A humanidade humilde e nostálgica das pequenas lojas
Onde os caixeiros dobram e desdobram fitas e fazendas
Eu procurava tornar-me tu porque tu ias morrer
E a vida toda deixava ali de ser a minha
Eu procurava sorrir como tu sorrias
Ao vendedor de jornais ao vendedor de tabaco
E à mulher sem pernas que vendia violetas
Eu pedia à mulher sem pernas que rezasse por ti
Eu acendia velas em todos os altares
Das igrejas que ficam no canto desta praça
Pois mal abri os olhos e vi foi para ler
A vocação do eterno escrita no teu rosto
Eu convocava as ruas os lugares as gentes
Que foram testemunhas do teu rosto
Para que eles te chamassem para que eles desfizessem
O tecido que a morte entrelaçava em ti
Naquele outono em que a tua morte se organizava meticulosamente
Eu agarrava-me à praça porque tu amavas
A humanidade humilde e nostálgica das pequenas lojas
Onde os caixeiros dobram e desdobram fitas e fazendas
Eu procurava tornar-me tu porque tu ias morrer
E a vida toda deixava ali de ser a minha
Eu procurava sorrir como tu sorrias
Ao vendedor de jornais ao vendedor de tabaco
E à mulher sem pernas que vendia violetas
Eu pedia à mulher sem pernas que rezasse por ti
Eu acendia velas em todos os altares
Das igrejas que ficam no canto desta praça
Pois mal abri os olhos e vi foi para ler
A vocação do eterno escrita no teu rosto
Eu convocava as ruas os lugares as gentes
Que foram testemunhas do teu rosto
Para que eles te chamassem para que eles desfizessem
O tecido que a morte entrelaçava em ti
Bajo el peso nocturno del cabello
O bajo la luna diurna de tu hombro
Busqué el orden intacto del mundo
La palabra no escuchada
O bajo la luna diurna de tu hombro
Busqué el orden intacto del mundo
La palabra no escuchada
Largamente bajo el fuego o bajo el vidrio
Busqué en tu rostro
La revelación de dioses que no conozco
Busqué en tu rostro
La revelación de dioses que no conozco
Pero pasaste a través de mí
Como pasamos a través de la sombra.
Como pasamos a través de la sombra.
Sophia de Mello Breyner Andresen, Portugal, 1919-2004
Versión de Diana Bellessi
Antinoo
Sob o peso nocturno dos cabelos
Ou sob a lua diurna do teu ombro
Procurei a ordem intacta do mundo
A palavra não ouvida
Longamente sob o fogo ou sob o vidro
Procurei no teu rosto
A revelação dos deuses que não sei
Porém passaste através de mim
Como passamos através da sombra
Ou sob a lua diurna do teu ombro
Procurei a ordem intacta do mundo
A palavra não ouvida
Longamente sob o fogo ou sob o vidro
Procurei no teu rosto
A revelação dos deuses que não sei
Porém passaste através de mim
Como passamos através da sombra
Éste es el círculo que trazo alrededor de tu cuerpo amado y perdido
Para que cercada seas mía
Para que cercada seas mía
Éste es el canto de amor con que te hablo
Para que escuchando seas mía
Para que escuchando seas mía
Éste es el poema -engaño de tu rostro
Donde busco la abolición de la muerte.
Donde busco la abolición de la muerte.
Sophia de Mello Breyner Andresen, Portugal, 1919-2004
Versión de Diana Bellessi
Eurydice
Este é o traço em redor do teu corpo amado e perdido
Para que cercada sejas minha
Para que cercada sejas minha
Este é o canto do amor em que te falo
Para que escutando sejas minha
Para que escutando sejas minha
Este é o poema – engano do teu rosto
No qual busco a abolição da morte.
No qual busco a abolição da morte.